domingo, 20 de dezembro de 2009

ESPAÇO LITERÁRIO


Aurora em Brasília Roberto Numeriano

Um dia,
Brasília cairá.
A cúpula aberta para o céu recolherá todas as águas
para quem tem fome e sede.
A cúpula voltada para a terra abrigará
os candangos de ontem e de hoje.

Não...
Não haverá incêndios e gritos.
Não haverá barricadas.
Nem balas ou pedras.

Cairá num grande abraço de ferro,
pelas mãos do povo.
Mãos de lápis.
Mãos de foices e martelos.
Mãos tecedeiras.
Mãos de fuzil.
Mãos de barro e de flor.

Um dia,
Brasília cairá.
E nela vai desaguar a terra e o sangue dos tempos.
Memórias pantanais.
Mandacarus caatingueiros.
Pampas minuanos.
Amazônicos silêncios.
E Canudos.
E Contestado.
E Farroupilha.
E Confederação do Equador.

Ergue-se-á uma assembléia de olhos de sonhos.
Das bocas voarão palavras livres.
Dos votos, a verdade sem a fraude das ilusões.

Um dia, Brasília cairá.
Abrigar-se-ão, nessa terra vermelha,
As mães amamentando as bocas de futuro de seus filhos.
E haverá terra.
E haverá pão.
E haverá escola.
E haverá trabalho.

Brasília e Recife, abril de 2008 e abril de 2009

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