sábado, 3 de abril de 2010

Pérolas da nossa Literatura

Castro Alves
Tabloide
A - C E N T E L H A
Moreno-PE


Adormecida

Uma noite , eu me lembro... ela dormia
Numa rede encostada molemente...
Quase aberto o roupão... solto o cabelo
E o pé descalço do tapete rente


'Stava aberta a janela. Um Cheiro agreste
Exalavam as SILVAS da campina...
E ao longe, num pedaço do horizonte,
via a noite plácida e divina...

De um jasmineiro os galhos encurvados,
indiscretos entravam pela sala,
e de leve oscilando ao tom das auras,
Iam na face trêmulo - beijá-la.

Era um quadro celeste!... a cada afago
Mesmo em sonhos a moça estremecia...
quando ela serenava... a flor beijava-a
Quando ela ia beijar-lhe ... a flor fugia.

Dir-se-ia que naquele doce instante
Brincavam duas cândidas crianças...
A brisa, que agitava as folhas verdes,
Fazia-lhe ondear as negras tranças!

e o ramo ora chegava ora afastava-se ...
Mas quando a via desperta a meio,
P'ra não zangá-la ... sacudia alegre
Uma chuva de pétalas no seio...

Eu, fitando esta cena repetia
Naquela noite lânguida e sentida:
"Ó flor! - tu és a virgem das campinas!
Virgem! - tu és a flor da minha vida ..."


Castro Alves

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