segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

ROLEZINHOS

 


Corredores de shoppings não podem ser equiparados a ruas ou praças. Os primeiros são locais que pertencem a empresas, os segundos são locais públicos. Não se pode confundir um local com acesso público com um local público.
Se os corredores de shoppings são "ocupados" por grupos de centenas ou milhares de pessoas correndo de um lugar para outro, os frequentadores habituais desses estabelecimentos privados não têm mais nenhuma liberdade de ir e vir.
Corredores de shoppings não são pensados como locais para manifestações públicas, estão voltados para sua atividade-fim, que é comercial . Não se pode aplicar a eles a lógica das ruas e praças, que obedecem, isso sim, a outras finalidades.
Mesmo no caso de ruas, por exemplo, o poder público não permite que elas sejam aleatoriamente "ocupadas" por centenas ou milhares de manifestantes precisamente por impedirem a liberdade de ir e vir de outros cidadãos. Se isso não vale nem para as ruas, por que valeria para os shoppings?
Os tumultos ocasionados por essas manifestações em shoppings, além de desrespeitarem a liberdade de ir e vir de seus frequentadores habituais, podem suscitar medo em pessoas que lá passeiam com crianças. O mesmo se dá com idosos, que podem sentir-se ameaçados por jovens que correm de um lugar para outro.
Há uma questão da maior relevância, relativa à construção e arquitetura dos shoppings, planejados para serem visitados por um determinado número médio de pessoas, segundo um desenho específico. Não são pensados para abrigar manifestações públicas. Sua arquitetura não permite uma invasão de milhares de pessoas para correrem em seu interior, cantando e criando tumulto. Para esse efeito não importa que sejam jovens, idosos, brancos, negros, homens ou mulheres. Não há aí nenhuma questão de discriminação, mas tão somente de quantidade e de forma de manifestação.
Cuidado com a ótica ideológica, ela pode obliterar a visão!
 Denis Lerrer Rosenfield é professor de filosofia na UFRGS

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