sexta-feira, 19 de setembro de 2014

DO LABIRINTO

Roberto Numeriano 
Eu não me arrisco te perder.
Não...
Não me arrisco se nem sei onde estás.
Se estás aí mesmo, onde pensas.
Se estás em lugar nenhum.
Nem mesmo eu sei onde estou, o que habito.
Se respiro.
Sofro.
Sorrio.
Por que, então, iludiria a mim mesmo nesse
Sonho de me achar aqui ou ali?
Não sabes nem o que ou quem és; como supor, assim,
Ser possível te perder?
Talvez estejas, desde já, perdida em ti mesma.
À espera da Lua refulgir entre nuvens invisíveis.
À escuta de qualquer sussurro de Deus.
Assim sendo, perder-te é impossível.
Quisera, sim, ser real arriscar te perder.
Mas já não há, aqui, ninguém real.
Vísceras.
Fome.
Solidão.
Tudo o que nos constitui é esse nada humano.
Perder-te, pois, é a ilusão total desse nada.
Vem, adormeçamos em paz.
Amanhã o dia vai trazer novas veredas.

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