sexta-feira, 14 de agosto de 2015

O PAPEL DA IMPRENSA

Hideraldo Montenegro
Nos momentos mais duros e difíceis, quando a recente ditadura militar mantinha uma censura cruel e implacável em todos os níveis, lutávamos e sonhávamos ter no país uma imprensa livre e crítica e, assim, contribuísse para que as pessoas saíssem da alienação. Sonhávamos também que as pessoas reagissem e aprendessem a manifestar-se nas ruas.
Naquele período, as principais manchetes nos jornais, revistas, rádios e telejornais eram sobre futebol, enquanto as coisas que aconteciam de relevante e fundamentais para o povo permaneciam intocadas pelos meios de comunicação. O povo dormia em berço esplendido sobre o som do “Eu te amo, meu Brasil” e a empolgação com a conquista da copa do mundo de futebol de 1970. O povo impassível era alimentado em sua alienação pela imprensa. 
Parecia que a imprensa se prestava mais ao papel de publicitário do governo, enquanto a inflação corria solta, enquanto pessoas eram torturadas e mortas, enquanto o desemprego e a pobreza eram alarmantes, enquanto o FMI manda e desmandava na política econômica do país, enquanto a censura coibia a arte de expressar-se livremente, enquanto os movimentos sociais eram sufocados. O silêncio e a conivência da imprensa eram lugar comum. Tínhamos no geral uma imprensa bajuladora. Muitos órgãos de imprensa tinham interesse em manter as coisas como estavam. Tinham interesse em manter intocáveis certos assuntos. Como se diz: “tinham rabo preso”, pois, estavam beneficiando-se em fazer o jogo do governo. Assim, eram mais bajuladores do que críticos.

Para conseguir conquistar a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa, muitos foram perseguidos, torturados, mortos ou simplesmente, colocados no ostracismo pela mídia. Hoje, graças a resistência daqueles que lutaram por um país livre e democrático, vivemos plenamente o direito de expressão, incluindo, inclusive, as atuais redes sociais. Chegamos ao ponto extremo, aonde toda tolice e qualidade duvidosa ganha espaço e visibilidade. Mas, é salutar, de certa forma, pois, isso faz parte do aprendizado democrático. Ainda estamos aprendendo a praticar a democracia em todos os níveis. E, não há outro jeito. Para aprendermos só a prática pode conduzir-nos a experiência da tolerância com opiniões divergentes. Nesse sentido, podemos dizer que, apesar das aparências contrárias, estamos evoluindo. E, é justamente isso que não pode ser interrompido.

Hoje, assistimos uma imprensa mais livre (no sentido que pode falar o que quiser) e puder ser mais crítica. O fato é que uma democracia só pode fortalecer-se com uma imprensa livre, que possa denunciar os desmandos, os abusos e a incompetência dos governantes. É uma pena, contudo, que boa parte da imprensa brasileira não seja tão livre, pois, estar condicionada aos seus interesses econômicos e, assim, ainda permanece tendenciosa. Critica veementemente aqueles que não lhe dá espaço, ou melhor, quem não favorece seus interesses econômicos e continua a bajular aqueles que lhe favorece economicamente.
Hoje, vivemos um paradoxo: desejávamos vê o povo manifestar-se livremente nas ruas, contudo, o que assistimos é uma massa de manobra ir às ruas induzidas pelas elites econômicas, impulsionada por esses meios de comunicação que desejam exclusivamente defender seus interesses econômicos a despeito de qualquer avanço social.
Desejávamos a liberdade de expressão e temos que assistir aqueles que detém o poder, como formadores de opinião, utilizarem suas forças para benefícios escusos, camuflados de arautos da liberdade, mas não passam de lobos em peles de cordeiros. Conseguem a simpatia dos incautos, ignorantes e reacionários de plantão. Tática fácil e covarde.
Mas, seja como for, essa luta dialética vai fortalecer-nos e fazer evoluir democraticamente, pois, enfim, precisamos agora aprofundar a essência da democracia: a liberdade.

É importante que a imprensa continue denunciando tudo que nos afete socialmente, inclusive, toda tendência golpista que nos retire essa liberdade.
Não podemos esperar que a imprensa seja favorável a qualquer governo, não é esse o seu destino, apesar de que, na prática, sempre existem aquelas que fazem justamente isso.

É muito bom que o povo brasileiro está indo para a rua, que está descobrindo sua força. É importante que a imprensa tenha liberdade de exercer um posicionamento crítico. Porém, é pena que esse aprendizado está em risco, justamente porque há um segmento da imprensa que está utilizando esse espaço democrático para, contraditoriamente, o colocar em xeque. É uma pena que, estimulados por uma imprensa comprometida apenas com os seus interesses econômicos, embora, finja agora ser livre, ainda existem aqueles que deixam ser enganados e induzidos por manipulações mascaradas que, no fundo, escondem posições elitistas e antipopulares, de fato.

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