terça-feira, 30 de agosto de 2016

A HORA DO PESADELO

Barbosa, goleiro do Brasil no Maracanazo, dizia que o gol de Ghiggia aparecia sempre em seus pesadelos. Era a arrancada nas costas de Bigode, a penetração na grande área e o chute na fresta mais improvável. E ele se via levantando, cabisbaixo e derrotado. A cena se repetia, com uma ponta de esperança de, quem sabe ?, acontecer diferente na vez seguinte. O pesadelo, porém, o perseguiu até a morte, sozinho e pobre. O gol, afinal, era irreversível.
  Temer e Cunha      O que acontece agora em Brasília não deixa de ser um pesadelo, com final há muito antecipado. Distintos senhores e senhoras, sérios, bem vestidos, simulam ouvir, posto que são surdos. Uns, como Cristovão Buarque, não se incomodam de emporcalhar suas biografias. Outros, habituados a pocilgas, apenas prosseguem a trajetória descartável, bancada por dinheiro público. Na frente de todos, uma mulher que errou um bocado, que superestimou o poder da burocracia, que se distanciou das massas, mas que não se acovardou e  enfrentou a cáfila raivosa. Será deposta por chicaneiros contumazes, sem ter cometido crime que justificasse o afastamento. Na surdina, beijam-se Mi​chel  e Eduardo. Um beijo de língua, apaixonado, tesudo. Proibido para a plateia, mas tórrido em casa.  

        Gregório Duvivier contribuiu para traduzir este momento tão, digamos, peculiar. Recolheu poemas inéditos do Senhor Mesóclise e publicou, em primeira mão, na Folha de S. Paulo. Em segunda mão, trago até vocês. Se conseguirem dar um sorriso amargo, tudo bem, faz parte. Caso contrário, podem vomitar à vontade. Boa parte do país está com o estômago fod..., digo, avariado.
Abraço
Jacques
​ Gruman​



Inéditos do Temer
POÉTICA
Chamar-me-ão de vampiro
De golpista ou morto-vivo
Chamar-me-ão de mordomo
Ou de vice decorativo
Alguns me chamam de Drácula
Outros usam Nosferatu
Alçaram-me à presidência
Pra acabar com a Lava Jato
Confessar-vos-ei meu nome
Antes que eu me vá embora
Meu segundo nome é Temer
Meu primeiro nome é Fora
O CASAL MAIS SHIPPADO
Como é bom se apaixonar
Somos feito carne e unha
Dos crimes que cometeu
Sou parceiro e testemunha
Sempre soube aceitar
tudo aquilo que eu propunha
Qualquer dia vou mudar
Meu nome pra Michel Cunha
O INVERNO NO JABURU É QUASE GLACIAL
A Marcela não gosta desse lar
Como é duro morar no Jaburu
Michelzinho não posso mais buscar
Como é duro morar no Jaburu
Tiraram de perto de mim Jucá
Como é duro morar no Jaburu
Como é duro
como é duro
Como é duro e triste
morar no Jaburu
Se tristeza tem um nome
O teu nome é Jaburu
ROUBA, MAS NÃO ERRA CONCORDÂNCIA
Tirar-vos-ei os direitos
Roubar-vos-ei com afeto
Matar-vos-ei pelas costas
Foder-vos-ei pelo reto
Bandido bom é bandido
que tem português correto
CONFISSÃO
Preciso contar um segredo
depois saio de fininho
Quem escreveu esse livro
não fui eu, foi Michelzinho
 

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