sexta-feira, 18 de novembro de 2011

VOCÊ É VAIDOSO?

Numa entrevista concedida há algum tempo atrás, o presidente Fernando Henrique Cardoso declarou que se considerava mais inteligente do que vaidoso. Esta afirmação foi interpretada como envolvendo um paradoxo. Com efeito, a vaidade de se considerar mais inteligente do que vaidoso parece ter sido tanta que não permitiu ao presidente perceber a pouca inteligência de sua afirmação. Agindo desta maneira, Fernando Henrique se revelou, numa verdadeira contradição performativa, mais vaidoso do que inteligente. Este breve exemplo serve para ilustrar o fato de que a questão da vaidade não pode ser tratada sem alguma sutileza. Transladando-a para a perspectiva filosófica, vemos que ela coloca o filósofo diante de uma situação paradoxal cuja superação não é fácil. Suponhamos que ele seja mais sábio do que vaidoso, como seria de se esperar. Se ele declara explicitamente este fato, revela-se vaidoso e deixa de ser sábio. Como resolver este problema? A douta ignorância de Sócrates constitui um exemplo de solução. Ele alegava ser a pessoa mais sábia do mundo porque sabia que nada sabia, enquanto as demais pessoas não sabiam que nada sabiam. E Sócrates parece ter-se aproveitado enormemente desta situação em suas discussões com os sofistas. Em muitas ocasiões, a sua ironia consistia principalmente em denunciar a vaidade excessiva que se escondia por trás das imponentes declarações de sabedoria, feitas por seus adversários. Como se pode ver, estamos diante do importante problema de saber até que ponto o filósofo pode admitir que é sábio sem perder a sabedoria em benefício da vaidade. Do ponto de vista filosófico, o dito de Fernando Henrique parece envolver uma situação paradoxal extremamente complicada.  

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