UM ESTUDO SOBRE A NOVA CONFIGURAÇÃO
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Marília Rufino - Assistente Social - colaboradora do Blog Acentelha |
O
objetivo deste artigo é fazer uma reflexão acerca das novas
configurações familiares. Neste sentido, o artigo está dividido em duas
abordagens: famílias monoparentais brasileiras chefiadas por mulheres e a
situação de crianças e adolescentes pertencentes à famílias
monoparentais no contexto brasileiro. O estudo se baseia no entendimento
de que a família faz parte da sociedade e tem papel fundamental dentro
de uma construção coletiva presente na realidade.
Palavras-chave: Famílias monoparentais; Chefia Feminina; Crianças e Adolescentes
Introdução
Ao
mesmo tempo em que a família é individual, é coletiva, a partir do
momento que estas relações são encontradas em outros indivíduos. No
contexto familiar muitos são os aspectos que podem ser destacados, como:
sentimentos, manutenção da integração, condições importantes para
existência, enfim, aspectos que moldam a família como uma instituição
integrada, pois é sabido que as mudanças na família têm ocorrido e o
modelo nuclear já não é o único.
1-Famílias monoparentais brasileiras chefiadas por mulheres
Segundo
Bruschini (2000) a família é um grupo aparentado, responsável,
principalmente, pela socialização de suas crianças e pela satisfação de
necessidades básicas. Ela consiste em um aglomerado de pessoas
relacionadas entre si pelo sangue, casamento, aliança ou adoção, vivendo
juntas, em geral, em uma mesma casa por tempo indefinido. Ela é
considerada uma unidade social básica e universal por ser encontrada em
todas as sociedades humanas, de uma forma ou de outra.
O século
XVIII foi marcado pelo surgimento da família nuclear: Pai, Mãe e Filhos;
onde o pai era o provedor e a mãe a cuidadora. Com o crescimento do
capitalismo industrial no século XIX, ocorreram mudanças de valores,
hábitos e costumes da família nuclear. Estas mudanças se acentuam com a
possibilidade de entrada das mulheres no mercado de trabalho no século
XX, e se consolidam após a I Guerra Mundial, quando as mulheres de fato
se inserem no mercado de trabalho e a partir daí conquistam vários
direitos. No Brasil o ingresso da mulher no mercado de trabalho, deu-se a
partir da década de 60, onde o país apresentava um especial crescimento
econômico.
Antunes (2001) faz uma análise sobre as mulheres que
trabalham fora. Ele diz que elas mantêm seus domicílios, mas continuam
sendo responsáveis pelos serviços domésticos, cuidados com a casa e com
os filhos. Ou seja, apesar das conquistas, o homem, na sua maioria não
substitui a mulher no trabalho doméstico, mas a mesma ocupou espaços
antes masculinos1. É perceptível ainda que apesar de conservadorismo,
das posturas tradicionais, as mulheres têm percorrido um caminho de
mudança e transformação importante, tornando-as mais autônomas, mesmo
quando essa monoparentalidade não é uma escolha, mas uma conseqüência.
A
chefia familiar para as mulheres não está relacionada apenas à
manutenção econômica, mas também a responsabilidade com os filhos.
Sentem-se culpadas quando não conseguem cuidar da casa, dos filhos e ter
um bom salário. Carloto (2006), chama a atenção para
as famílias “encabeçadas” por mulheres. Nelas, o homem está ausente,
seja de forma temporária (migração) ou permanente (separação, morte,
abandono).
Em relação ao crescimento da chefia familiar, dados do
IBGE (2010), mostram que as famílias chefiadas por mulheres no país
passou de 22,2% para 37,3%, entre 2000 e 2010. Também aumentou o número
de famílias monoparentais, de 11,6% para 12,2%.
2-Situação de crianças e adolescentes pertencentes à famílias monoparentais
As
crianças e adolescentes pertencentes à famílias monoparentais no
Brasil, vivem em sua maioria em situação de vulnerabilidade e risco
social. Todavia, vale ressaltar que nem todas as famílias monoparentais
são pobres ou chefiadas por mulheres.
Quando os pais se separam,
as crianças e/ou os adolescentes têm que enfrentar esta crise, o que não
é fácil. Pois muitas coisas mudam e dependendo de como essa separação
ocorra, a tristeza, a revolta, a dor e o medo, são sentimentos que podem
passar a fazer parte da rotina destes e chefia feminina parece estar
grandemente associada a domicílios menores, mas fundamentalmente
composto por população infantil, favorecendo a inserção precoce de
crianças em atividades remuneradas e de produção. Isto eleva a pobreza e
atinge de fato as crianças e adolescentes pertencentes a este arranjo
familiar.
Compreender as questões que envolvem a família não é
fácil, pois elas nem sempre se apresentam claras. A compreensão torna-se
mais complexa quando o arranjo difere do tradicional (pai, mãe e
filho/s). A análise sobre os diferentes arranjos familiares não
pode,
portanto, ser descolada das formas de organização e reprodução do
sistema como um todo. Isso porque a família promove alterações na
sociedade ao mesmo tempo em que é modificada também por elas. Desse
modo, compreender as famílias monoparentais implica abandonar estigmas e
preconceitos, evitar generalizações e, sobretudo, compreender que “a
monoparentalidade é um estado em aberto [e] por essa razão deve ser
considerada [...] em suas permanências e recomposições” (VITALE, 2002,
p. 58). É preciso, sobretudo, evitar “a naturalização da família e
compreendê-la como um grupo social cujos movimentos de organização,
desorganização e reorganização mantêm estreita relação com o contexto
sociocultural” (CARVALHO,2002 p. 15).
Em
síntese, as mudanças ocorridas na família trazem subsídios para
pesquisa, na busca de compreender o que de fato tem ocorrido. Dessa
forma, gostaria de ressaltar a oportunidade que tive ao estudar sobre um
tema tão pertinente para as relações sociais e humanas, numa
perspectiva de contribuir para o avanço do conhecimento sobre as
famílias monoparentais chefiadas por mulheres. As experiências
apreendidas modificaram em muitos aspectos o meu olhar, não apenas para
as relações familiares estudadas, mas também para a minha condição de
mulher em um dado contexto familiar. Nessa direção, reafirmo a
importância da contribuição deste trabalho como incentivo para que as
mulheres possam olhar com mais criticidade e entender a sua importância
na família monoparental.
Referências
ANTUNES,
Ricardo. Os Sentidos do Trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação
do trabalho. São Paulo: Boitempo Editorial, 2001;
BRUSCHINI, C.
Mulher, casa e família. São Paulo: Editora Revistas dos Tribunais, 1990.
BARROSO, C. Sofridas e mal pagas. Cad. Pesquisa, São Paulo, Fundação
Carlos Chagas, n. 37, 1981;
CARLOTO, Cássia Maria.
Gênero, políticas públicas e centralidade na família. In: Serviço social
& sociedade, São Paulo, v.27, n. 86, p. 139-155, jul. 2006;
CARVALHO,
L. Famílias chefiadas por mulheres: relevância para uma política social
dirigida. In: Serviço Social & Sociedade, São Paulo, Cortez, n. 57,
jul. 1998;
VITALE, Maria Amalia Faller. Famílias
monoparentais: indagações. In: Revista Serviço Social & Sociedade:
especial famílias. Ano XXIII, n. 71. São Paulo: Cortez, set. 2002, p.
45-62.