terça-feira, 16 de julho de 2019

Generalizar não é burrice

Émuito comum ouvirmos esta frase: “toda generalização é burra”. Para começar, esta frase é contraditória, pois em si mesma traz uma generalização ao afirmar que toda generalização é burra, sendo a palavra “toda” generalizante. ... Porém, não é só por isto que nos parece incorreto dizer que toda generalização é burra.
A generalização é um modo fácil de, por exemplo, atribuir características às pessoas ou coisas, e este é o modo de generalização mais criticado. E é criticado, nestes casos, por atribuir características que levam ao preconceito e à formação de conceitos falsos, e isto é verdade, mas a causa não é a generalização, e sim o uso que se faz desta, e esta é a primeira razão que usaremos aqui para explicar que generalizar não é burrice.

Um exemplo: é comum dizer-se que os orientais são tímidos. Ao ouvir esta afirmação, determinada pessoa poderá criar um pensamento de que todos os japoneses são tímidos e, por razões pessoais, deixar de, por exemplo, desejar ter amizade ou se relacionar com pessoas orientais. O erro, neste caso, não foi da afirmativa, mas do uso da afirmativa. Quando se afirma que orientais são tímidos, isso pode estar certo, mas não é uma conclusão feita a partir de experimento com todos os habitantes do lado oriental do mundo, mas é uma conclusão geral, e assim deve ser considerada. A generalização é (sem querer ser redundante) geral, e não individual.

Claro que devemos excluir daqui as generalizações extremistas, como as racistas, e outras que afetam classes sociais que já sofrem com o preconceito, como ocorre com os negros, por exemplo. Não defendemos generalizações racistas, ou machistas, ou sexistas, por motivos que nem precisam ser explicados.

A segunda razão que usaremos aqui para explicar que generalizar não é burrice está muito relacionada com a primeira: generalização não é uma consideração individual, e sim coletiva. A construção de uma generalização decorre de uma análise genérica, geral, e bem pouco específica. A generalização é superficial, e analisa uma característica que poderá ser predominante, mas nunca homogênea. A generalização é uma afirmação de uma característica coletivamente considerada, e não individualmente considerada.

Dizer que os orientais são tímidos, que os alemães são frios, que os brasileiros são alegres, ou que os italianos falam alto, é uma afirmação de uma característica coletivamente considerada. Se eu digo que Hiroshi é tímido, que Karl é uma pessoa fria, que João é alegre e que Pietro fala alto, aí então eu estou fazendo afirmações individualmente consideradas.

Diz-se que os brasileiros têm uma alegria espontânea. Eu mesmo tenho é um mau humor espontâneo, e sou brasileiro! Mas não posso sentir-me contrariado pela afirmativa geral, pois ela é geral, não pessoal, e ninguém está falando de mim. Como dissemos, a generalização é uma afirmação de uma característica coletiva, e não deverá ser usada para julgar ou atribuir características ao indivíduo singularmente considerado. A generalização não é burra, e burrice é individualizar a generalização.

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