terça-feira, 24 de março de 2020

COLUNA DO POETA

AS  FLÔ  DE  PUXINANÃ

Acariciando os dias que vou trilhando, a procura sempre  do bem maior  que é  a sobrevivência,  mesmo que  cercada de outros  desejos os quais engrandecem a alma  e a sede de viver.
Assim, nesse contexto, caminha a humanidade, sonhando, buscando a coerência do sentido VIVER, onde  paira a dúvida  de ter dúvida das certezas que muitos  acreditam incertas.


ASSIM, traduz  a incerteza da certeza do autor dos versos cantados abaixo, quando se apaixonou em uma de suas caminhadas pelos recantos  do mundo, sempre em busca do amor platônico e voraz.
As flô de Puxinanã  - Zé da Luz, poeta que veio ao mundo como Severino de Andrade Silva e recebeu a alcunha de Zé da Luz, das terras nordestinas, nasceu em 29 de março de 1904 em Itabaiana, região agreste da Paraíba e faleceu no Rio de Janeiro em 12 de fevereiro de 1965.. Nome de guerra e poesia, nome dado pela terra aos que nascem Josés e, também, aos Severinos, que se não for Biu é seu Zé



As flô de Puxinanã  (Paródia de As “Flô de Gerematáia” de Napoleão Menezes)


Três muié ou três irmã,
três cachôrra da mulesta,
eu vi num dia de festa,
no lugar Puxinanã.



A mais véia, a mais ribusta
era mermo uma tentação!
mimosa flô do sertão
que o povo chamava Ogusta.



A segunda, a Guléimina,
tinha uns ói qui ô! mardição!
Matava quarqué critão
os oiá déssa minina.



Os ói dela paricia
duas istrêla tremendo,
se apagando e se acendendo
em noite de ventania.



A tercêra, era Maroca.
Cum um cóipo muito má feito.
Mas porém, tinha nos peito
dois cuscús de mandioca.



Dois cuscús, qui, prú capricho,
quando ela passou pru eu,
minhas venta se acendeu
cum o chêro vindo dos bicho.



Eu inté, me atrapaiava,
sem sabê das três irmã
qui ei vi im Puxinanã,
qual era a qui mi agradava.



Inscuiendo a minha cruz
prá sair desse imbaraço,
desejei, morrê nos braços,
da dona dos dois cuscús!
Risonaldo Costa



A Flor de Jeremataia - Napoleão de Menezes

Três muié, três cão de saia
Três caboca do outro mundo
tem na casa do Raimundo
no lugá Jerimataia!
A mais véia delas três,
a mais alta, a mais franzina
mimosa flor da campina
qui o povo chama de Inez.

A segunda é a Zezeta!
Tem uns ói qui santo Deus!
Un oiá daqueles seus
bota no inferno um poeta!...
uns ói qui parece ser
dois ladrão numa janela
dois garrote na cancela
da cacimba de beber!

A terceira é Mariana,
tem um corpinho mais cheio!
E a móde qui traz no seio
dois mangará de banana!
Dois mangará, chega a gente
sonha ca fruta qui vem...
E o cheiro qui a fruta tem
quando ela fala se sente!...

E a gente até se atrapaia
vendo essas fulô perdida
naquela casa inscundida
no pé de Jerimataia!
Mas se mandasse eu tirá
entre elas três a mais bela
eu queria mesmo aquela
que é a dona dos mangará...

Fonte:
Raimundo Araújo. Cantador, Verso e Viola. Ed. Pongetti. 1974. Rio de Janeiro -RJ. p.113.

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